13 novembro 2017

POEMA OCO

Esse poema brota sem inspiração.
Oco.
É que, as vezes, o oco  também transborda.
Oco eco!!
Suspenso vazio que  consome e rouba
o grito, o riso, o choro, o gozo, o silêncio .
Poema caótico.
Seco.
Poema poeira. Pó de estrada.
Poema sem pé nem cabeça.
Poema de corpo, alma e vísceras.
Poema que  não consente. Mas cala. Fundo.
Desestruturado e desequilibrado.
Sim, poema sem razão.
Quis nascer à revelia
Monte de rabiscos
Pedindo  por vida. 

Foto: Patrícia de Paula

26 outubro 2017

POEMA DE QUINTA


Sem mais nem por quê 
 seu cheiro me invade,
desperta!
O  silencioso  breu
toca  nossa Balada...
Insana... rouca!
Procuro nos dias perdidos,
a razão desconexa de tamanha
explosão...
Hoje.
Quinta – feira.
É...
Como se todo meu corpo
salivasse ao pressentir
sua chegada...
Boca
Olhos
Vagina
Poros
Alma encharcada de desejo
Faminta
Coração latejante
Exposto
Se preparando para a troca
Mais intensa que pode haver

Entre dois seres ... 

Leonid Afremov

21 junho 2017

AMOR GENERALIZADO

Me frequentam pessoas.
Homens
Mulheres
Mulheres que gostam de mulheres
Homens que gostam de homens
Trans... Cis...Bis...
Há espaço!
Minhas gentes...
Sou  frequentada por todos os meus afetos.
 Eternos, transitórios, permanentes ou de ocasião.
Os de profissão.
Os de família...
De sangue e de alma.
Compartilho vida,
Arte,
Risos,
Sonhos,
Dores,

Incertezas,
Carinhos...
Prazeres de todos os moldes.
Até aqueles sem modos...
Em mim, jazz amor!


08 junho 2017

TEIMA PARA UMA SAUDADE

Para sobreviver  aos nossos  hiatos,
Peguei  mania de desmentir  o tempo.
Estico  segundos
Encurto  horas
Atropelo  minutos.

Ando   sem  precisão.

Lendo  livro de trás pra frente
Para  tudo  acabar  em  começo.

Catando  folhas  secas  pelas  ruas
Para o outono passar mais rápido.

Usando  roupa de missa a semana inteira
Para o domingo nunca ter fim.

Apagando   anotações  na agenda
Para  o  ano  ser  sempre  novo.

Plantando  flores  de  plástico
Para  crescerem mais rápido.

Escondendo os  jornais do dia
Para o ontem  permanecer   presente.

Queimando  diários  antigos
Para  as  lembranças  ressurgirem  das  cinzas.

Ando feito  criança esperando noite de natal
em pleno maio.

Nas entrelinhas, o que sinto?
Saudades!


Picasso - Femme Accoudee

17 abril 2017

BESTA FERA

Existia em mim, arraigado às minhas entranhas, um bicho feroz.
Um parasita que vivia corroendo minha alma.
Salivando e urrando  insensatas fantasias,
Gemendo..
Inventando dores despropositadas,
Coabitando em mim... sem permissão!
Meu desespero o tornava cada vez mais forte
enquanto eu, débil, paralisava , quase sucumbindo de infelicidade,
 me tornando cada vez mais estéril, incapaz de acarinhar e confiar.
A fera vivia à espreita, zelando o mal.
As doçuras nunca eram suficientes o bastante para me fazer sorrir.
Ele apodrecia minhas vísceras.
Tudo o que por mim era oferecido
cheirava a velho, a podre.
Até  meus pensamentos exalavam sangue.
O novo, tinha sempre odor de naftalina.
Quando, por fugazes instantes, ele adormecia,
experimentava  respirar livre do peso que me obrigava a rastejar.
Sabia, no entanto, que ele despertaria mais e mais  enfurecido,
estraçalhando lembranças e  minando esperanças.
Vivia fadada a dor.
Meu gozo escorria putrefato.
A alegria era sempre maculada pela dúvida.
As palavras viviam engasgadas, causando náuseas.
E foi em meio a toda essa agonia
asfixiada pela escuridão...
Surgiu você.
Manso. Forte. Leve.

Pleno,
dominou a besta fera.
Não havia mais urros. Gritos. Gemidos.
Apenas silêncio.
Um silêncio tão seco
Mas que trazia tanta alegria,
Que o amor nasceu assim...
Inesperado, mudo e livre.

"POSSESSED" by AUDREY KAWASAKI

02 abril 2017

RECOMEÇO OU POEMA DE DOMINGO À NOITE

Limpei a casa.
Tirei toda maquiagem.
Troquei as cortinas.
Esvaziei-me do medo.
Pintei as unhas com cores alegres.
Perfumei a alma.
Lavei os cabelos.
Desfiz-me das expectativas. Todas.
Mas mantive a esperança. Dela, ainda preciso.
Comprei flores frescas.
 Girassóis. Porque iluminam.
Tranquei as dores passadas. Não quero comparações.
 Mas as marcas ainda estão aqui.
Desnudei-me o máximo que posso suportar.
Coloquei uma música divertida.
Formatei a razão.
Abri um vinho.
Minimizei a ansiedade.
Quase tudo pronto.
Agora, destranco as travas
E desorganizo tudo.
O novo, chega assim...

Bagunçando tudo mesmo!
Audrey Kawasaki – Deep Waters, 2012

02 fevereiro 2017

ENQUANTO CHOVE

Vem!

Desce!

Não pense!

Antes que o abraço murche
Antes que o sorriso desbote
Antes que o beijo estanque
Antes que o olhar escape

Antes que o medo cegue
Antes que a razão acorde
Antes que o prazer traspasse
Antes que o calor finde

Antes que o desejo escoe
Antes que a alma voe
Antes que a chuva passe
Antes que o outono chegue

Antes que o meu amor se cale!

" My  Dishonest Heart" - Audrey Kawasaki