13 dezembro 2015

ALADO

foto: autor desconhecido..?

BICHOS INSTINTOS

Somos essa espécie esquisita.
Bicho de sentir.
Bicho feito para arriscar.
Rabiscos imperfeitos.
Bicho que caça sonho.
Come poesia,
Respira emoção,
Transpira lágrimas,
Arrota ilusão,
Mata a sede com esperança,
Se embriaga de paixão.
Bicho que,de vísceras expostas,
segue sangrando, por intuição.
Bicho que morde a sorte,
Arranha o destino
Descansa à sombra do acaso.
Bicho que guerreia com
moinhos de medo,
todos os dias, ao despertar.
Somos esta espécie:
Estranha.
Animal metade nada. Parte de tudo.
Bicho feito para amar.

(2015) 



Ilustração: Carne Griffiths

10 dezembro 2015

VÁCUO

foto: autor desconhecido...?
                                                      
                                                         

09 dezembro 2015

VERSUS

Eu, ansiedade  x Você, mansidão
Eu, maremoto  x Você, lagoa serena
Eu,  segundo afobado  x Você, hora marcada
Eu, jogo de dados  x  Você, xadrez ponderado
Eu, carnaval x Você, bossa nova
Eu,rock metal x Você, clássico instrumental
Eu, corro com a multidão no sinal  x  Você, respira fundo e sente o sol
Eu, montanha russa   x  Você, carrossel
Eu, vaudeville  x  Você, tragédia grega
Eu, Almodóvar  x  Você, Woody Allen
Eu, Janis Joplin  x  Você, Tom Jobim
Eu, instinto  x  Você, razão
Eu, arvorismo   x   Você, meditação
Eu, improviso   x Você, cena ensaiada
Eu, tango de Gardel  x  Você, samba de Noel
Eu, correnteza  x  Você, margem
Eu, crepúsculo  x  Você, alvorada
Eu, Fernet  Branco   x  Você, Coca-Cola
Eu, primavera, inverno e verão  x  Você, outono
Eu, com você  x  Você, comigo
Nós...  inversos... encaixes

foto: autor desconhecido..?

19 novembro 2015

BIFURCAÇÃO

No meio do caminho,
me desencontro
impregnada de você...
Em todos os  sentidos.
Múltiplos dos  seis!!

Pressinto.
Estanco.

Ao te revelar o que sinto...
Medo de
Não saber mais como sentir.

O segredo me protege.
O silêncio me sufoca.
A covardia,
Me  rouba uma suposta felicidade.
That is the question!!!!


(2015)

13 novembro 2015

CABO FRIO

Essa velha menina está de aniversário...
As águas batem nas rochas de sua costa em festa...
Ondas lambem sua areia alva e fina em comemoração,
O vento gaiato de agosto descabela as moças neste novembro de quase verão!
Essa velha menina está de aniversário!!
O Forte Matheus, imponente e garboso recebe, elegante 
e cheio de histórias para contar ,os viajantes que chegam para festejar....
Os Anjos do Convento, a Guia da Capela e até o Santo Benedito
Se juntam a esta celebração sacro-profana
que se espalha pelas salinas, restinga, lagoas...
em um animado cortejo de Passagem
por toda a extensão da Assumpção...
Essa velha menina está de aniversário...
Lembro da menina, uma outra, hoje feita mulher
que num dia de maré alta 
atravessou a Ponte Feliciano Sodré,
e partiu, embalada pelos seus sonhos,
em busca de sua arte.
Essa menina, a outra, que, mesmo de longe,
ainda sente o cheiro bom de maresia,
 também comemora com os seus pares
e ímpares que, do outro lado da ponte permaneceram,
os 400 anos bem vividos desta..

Velha menina que está de aniversário...

27 outubro 2015

PALOMAS

Sua aparência causava em alguns, nojo. Em outros, pena ou ainda medo. Mas o certo é que era impossível ser indiferente a sua estranha figura. Perambulava pelas ruas do bairro cotidianamente. Não para esmolar, mesmo porque, ela não falava com ninguém! Caminhava como se não existissem seres humanos ao seu redor. Ignorava toda a gente. Seguia seu itinerário diário, obedecendo sempre os mesmos horários, sob sol ou chuva!
         O vestido vermelho de alças, longo,  saia rodada, por debaixo uma camisa branca de um tecido que, apesar de velho e gasto, podia –se notar que era fino,as mangas compridas de punho bordado.  Um xale estampado que um dia teve lindas franjas, arrematava o figurino .
Os cabelos castanhos eram longos, lisos e muito ralos. Pés descalços. Nos dedos muitos anéis,nos braços muitas pulseiras e nas mãos carregava sempre um pombo. Por onde passava deixava no ar um odor nada agradável, mistura de perfume doce com suor. Mas o que realmente chamava a atenção das pessoas que por ela cruzavam, era o seu rosto.
         Não possuía nenhuma deformidade, pelo contrário, se bem observado poderia-se notar uma certa beleza! Mas era, no entanto, coberto por uma maquiagem pesada, carregada. Sombra escura, olhos delineados com um lápis preto forte, batom vermelho ou rosa muito escuros sobre um espessa pasta branca que cobria toda a sua face, completavam a máscara da tal andarilha, personagem misteriosa que aguçava a curiosidade de muitos e causava inveja nos mais sensíveis por ter conseguido alcançar um estágio de liberdade em que podia simplesmente ser!
         A mulher do pombo, como a chamavam, era tema constante de conversas e bate-papos. Todos especulavam, imaginavam sua origem, seu passado, buscando compreender seu presente.
         Andava durante todo o dia carregando um pombo nas mãos, único companheiro, somente com ele falava, mas muito baixinho, sempre em tom de segredo.  
         Por que justamente aquele bairro? Por que sempre as mesmas ruas? Por que sempre os mesmos horários? Será que perdera algo ou alguém naquele lugar? Será que realmente procurava algo? Seria apenas mais uma louca moradora de rua? Mas onde conseguia as pinturas? Onde se alimentava?  Nunca viram – na comendo! Teria passado por um trauma?Quantas perguntas surgiam em torno dela...
         Enquanto isso, enquanto as pessoas tentavam achar explicações para seu modo de agir, ela simplesmente seguia existindo, sem importar-se com o que pensavam dela ou de suas atitudes.
         A sensação que ela imprimia era,como se todos nós fôssemos os excluídos, os diferentes, tamanha força que possuía no olhar, no caminhar, no conversar com seu amigo pombo.Completamente indiferente ao nojo, a pena, a curiosidade ou a qualquer outro sentimento que viessem a sentir por ela.
         Não precisava fazer o que os outros esperavam dela, não precisava estar na moda, não precisava  sorrir sem vontade, nem ouvir calada desaforos,nem aceitar de bom grado o destino imposto,  tentando sentir um pouco de felicidade comparando suas desventuras  com as desventuras alheias, criando uma escala medida por desgraças!
         A mulher do pombo incomodava, apesar de sempre levar consigo a paz.
          

MADE IN BRASIL

Rezadeiras
Benzedeiras
Carpideiras
Parteiras
Mandingueiras
Videntes
Macumbeiras
Curandeiras...


SALVE AS BRUXAS BRASILEIRAS!!


03 outubro 2015

DESATADOS


Beijo-te
Escapa-me.
Enlaço.

Então...
Cedo.
Tarde demais?
Rendo-me.
Finges,
Relutas,
Recusas.
Não tenho medo de nós!
Atados.
Frouxos.
Entregues...
Até onde
Possamos
 nos amar
Sem sufocar.
(2015)

29 setembro 2015

NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO

Ô!! Menino!
Moleque encardido!
Seu lugar não é aqui, não!
Vai catar latinha.
Vai engraxar sapato.
Vai vender picolé.
Vai limpar meu chão.

Esse mar,
Essa luz,
Esse céu...
São pra você, não!

Sai par lá!!!

Vem para cá
Imundar a areia,
Onde minha consciência, branca,
Vem repousar ?

Por aqui,
Pode ficar quem pega no batente!
Feito seu pai, seus avós
E esse bando todo que...
Só me serve, em silêncio,
Sua existência.

Abre a minha porta.
Carrega minhas sacolas.
Lava meu carro.
Varre a minha rua.
Recolhe meu lixo.
E levanta logo esses muros.
Bem altos... Sem pestanejar!

Quer um lugar no mundo?
Vai trabalhar!
Acorda bem cedo.
Pois o Sol, pra você,
Presta apenas para te despertar!

Aproveita e manda para mim
Uma preta boa.
De forno, fogão e cama.
A casa está uma zona!
A que tinha. Velha. Botei na rua.
Assim, tua renda aumenta
E você para de pingar
Melancolia embaixo da minha janela.
Atrapalhando a paisagem que me custou
Mais de um caminhão de tua gente!

Ah! Faz um favor!
Só desce aqui,
Quando for chamado.

Esquece também isso de ginga,
De ritmo peculiar, de molejo,
Cantoria, samba, arte...
De genialidade popular!!
Só no carnaval!  Aí, tudo bem!
Depois... Queima a fantasia.
Não alimenta esperança, Moleque!
Se tentar voar alto.
Suas asas, são nosso alvo!

(2015)

FOTO: Patrícia de Paula

25 setembro 2015

POSOLOGIA


Para ouvidos sem ângulos. ..
Um triângulo equilátero 
Indefinidas vezes pela vida.
Ao persistirem os sintomas...
Continue cantando!


07 setembro 2015

DESENCONTRO MARCADO

Mais uma vez
Estávamos lá...
Presentes.
Dia
Hora
Local
Sequer nos atrasamos
para mais um de nossos desencontros.
Quando nos percebemos
Numa troca de olhares desencontrados
Fui tomada por uma alegria
Doce e acanhada.
No desabraço habitual
Senti seu corpo, seu cheiro, sua respiração
E, por pouco, me desfaço em desejo.
No breve diálogo cordial,
Discorro frases triviais...
Desdizendo   sentimentos!
Você sempre me embaralha
os pensamentos.
Desinibidos
deslocamos nossos corpos
pelo espaço...dançando
Ao som de acordes
Power chord
Desperdiçando  beijos...

(2015)

31 agosto 2015

PRECE DE AMORES DESVALIDOS

Esse nó no peito
Essa sombra na alma
Esse coração desritmado
Essa febre que não cessa
Esse choro trancado
Essa vontade cega
Esse tumulto na mente
Essa tristeza de saudade
Esse desejo lancinante...

Tudo isso
É dor não...
É a poesia 
Que você me inspira
Desesperada
Pedindo vida!


(2015)

20 agosto 2015

DESTINATÁRIO


Não sei desde quando...
Parece que de sempre pra cá
O meu desejo deu de ter rumo certo.

No vazio estridente
Na solidão das gentes
Nos sonhos esquecidos
Na pausa da tempestade

Lá vai ele...
Me desorientando o destino
Seguindo rota incerta
Da luz que alumia
Alma
Arte
Carne
Que vibra inundada
Pela força do olhar
Pelo brilho da voz
Antecipando múltiplas explosões

Errante, me deixo levar...
Pois meu desejo é bicho sabido
Sabe que essa febre
É diferente de amar..


(2015)

16 agosto 2015

RESPOSTA

Desafino nas palavras...
Grito quando deveria silenciar
Não sei sussurrar
Explodo sempre
Em canto
Em dança
Em alma
Em carne
Em extase
Plena de vida
te respondo...
Estou por aqui!
Então...
Venha!

(2015)

15 agosto 2015

MERGULHO

Em silêncio
Vivia
Em rede... na rede
Ouvindo a alegria das vidas
Alheia...
Sentindo os amores dos corações
Anônimo...
Até que um vento forte
Reverberou e desaprumou
As configurações...
Me  redescobri em sua poesia
 As  entrelinhas tinham
Tanta vida...
Seus versos exalavam tanta paixão
Que a cada estrofe eclodia
Regenerada...
Com alma escancarada
Recebi suas rimas
Que  chegou derrubando
Sólidas e sórdidas muralhas...
E, como um escafandro
Mergulhei
Profundezas
Sensoriais...
Emergindo em gozo
Sempre mais feliz

                               (2015)