28 abril 2015

ERA UMA VEZ ... MAIS UMA VEZ

Ele, mesmo sem saber, lhe convidou a dançar.
Ela não recusou.
Ele sentiu a alma estremecer quando a tocou.
Ela se aconchegou.
Ele lhe contou segredos de tempos vividos
Ela sorriu e se calou.
Ele desejou que o beijo se eternizasse.
Ela beijou.
Ele  precisava dela todas as manhãs, tardes, 
noites, madrugadas...
Ela aceitou.
Ele lhe recitava poemas.
Ela lhe mostrava as novas canções.
Ele a lembrava todos os dias
o quanto a amava.
Ela, o amava o quanto podia.
Até que não pode mais.

( 2014 )


26 abril 2015

MELANCOLIA

Alma vazia,

       alma perdida em meio à multidão!
            
       Alma sem vida.
      
       Pensamentos insistentes, incoerentes!
      
       Aguda melancolia...

       Mente confusa,

       mente doente,

        demente...

       Desesperadamente lutando, tentando...

       Mentirosamente escapando, fugindo...
      
       Piedosamente, clamando por paz!

       O coração a bater  em silêncio,

       sem paixão,

        sem desejo,

       burocraticamente cumpre sua função.

       Corpo desanimado.

       Olhos injetados.

       Lábios cerrados,

       pele pálida, sem viço:

       Projétil de Deus antes da criação

       ingerindo cápsulas de suposta felicidade.

       Grande inversão!!

       Ser ou não ser; resultado

       desse moderno processo de desumanização?


                                                                                                      2003


19 abril 2015

VOLUPTATEM



O abraço suado, apertado, quase sufocado

seguido por um gemido abafado indicam o fim.

As funções vitais abandonam o exagero

retomam em calmaria,

 proporcionando, renovada,

a vida.


Os olhares, ainda que não apaixonados
Confessam o quanto foi bom cada instante.


Os dedos  suavemente acariciam a cabeça

e desalinham ainda mais os cabelos.

As mãos  passeiam sobre a pele

num vai e vem infinito como alguém que

anda em círculos, perdido em seu caminho.

Os braços que tomam posse do outro

como se pudessem impedir o tempo de passar

Beijos, cheiros...
Boca, peito..
Coxas, mãos..
Braços, seios..


As respirações que se misturam,

os risos e sorrisos que se entendem

no silêncio revelador do depois.



                                                                    2005

02 abril 2015

LEMBRANÇAS AZUIS EM UM 2 DE ABRIL


A foto é antiguinha...
Essa sou eu. 
Esse é meu primeiro amigo!! Éramos vizinhos.
Muro com muro.
Ele é alguns anos mais novo do que eu.
Ele aprendeu a ler sozinho!
E depois, de um jeito diferente, me fazendo repetir
os letreiros de lojas e outdoors , me ensinou .
Quando eu entrei na escola, já sabia um monte de coisas!!
Ele adorava repetir as brincadeiras...
Isso era meio chato. Mas eu brincava...
No final era sempre  divertido.
 Principalmente quando eu
o convencia a  experimentar uma brincadeira diferente!!
Ele tinha uma memória de elefante...
Eu vivia perguntando para ele as letras das músicas do Balão Mágico!
No início avisei  que a foto era  antiga!!
As vezes ele ficava muito irritado e gritava e chorava por horas...
Essa coisa de sentimentos e emoções era mais difícil para ele!
Eu não sabia como ajudar então ia tentando um monte de estratégias.
Nem sempre ele me dava ouvidos, mas algumas funcionavam!!
Surpresas  e mudanças repentinas de combinados também
não eram lá muito  agradáveis para ele...
Mas ele foi entendo que viver não é preciso, como já dizia o poeta!
Ah!! Outra coisa que não era nem um pouco agradável para meu amigo...
Metáforas, figuras de linguagem, situações hipotéticas...
Ele era o rei do concreto.
Eu, a rainha abstrata...
 Mas sempre encontrávamos nosso denominador comum...
Ele de vez em quando ficava muito tempo calado...
Não queria papo.
Eu, apesar da timidez, queria  jogar conversa fora!!
A alternativa era puxar assunto do nada... sobre tudo!
Por ironia, aprendi a ser sociável com esse meu amigo casmurrão!!
Aprendi mais um tantão de coisas que só,
muito depois, fizeram sentindo na minha cabeça adulta
que teima em querer encontrar explicação  para
tudo na vida!
Um beijo azul pra você, meu primeiro amigo!
Um beijo azul para você, meu Grilo Magrelo,
que segue   cotidianamente me  ensinando o quanto
Viver não é preciso!!
( 2015)