16 maio 2015

TODOS OS MEDOS


Somos...
a dor, o medo a alegria,o desejo o desespero, o engano, a provável verdade, a alegria, a incerteza,a esperança, o prazer, a música, o teatro...
o faz de conta, o quase
o real
o improvável!!
O sonho,
o feito,
o desfeito..
a imagem,
a alma,
o riso,
o enigma
a razão,
a dúvida!
O grito sufocante de seja lá por que for...
Forjados...
Ahh!!
Somos forjados!
pseudos
alforriados...
( 2015)

14 maio 2015

LITERARIAMENTE


Eu mordo em prosa 
e arranho em poesia !
Não faço por mal...
Acredito em romances.

Rejeito os dramas e
Duvido das fábulas...


O realismo fantástico
Me dá  uma certa esperança.
Tudo é possível ?


Terror não me convence.
Me habitam fantasmas
mais eficientes!


Suspenses me cansam...
Prefiro os discursos diretos.
Olho no olho.
Nada de contos de fadas.

Mistérios me causam
angústia e excitação.
Aventuras... só as reais.

Sigo em metalinguagem
vivendo página a página.

(2015)




13 maio 2015

A VELHA HISTÓRIA

               Quando seu celular tocou não reconheceu o número. Animada atendeu, afinal, um número estranho pode se tratar de algo além de um simples engano.
      A voz do outro lado disse seu nome em tom de pergunta, era alguém querendo realmente encontra-la, fato que lhe trouxe muita felicidade, principalmente por ser  uma  voz  masculina. Poucos homens a procuravam.
      Bastaram três palavras para que soubesse de quem se tratava, mas fingiu não lembrar. Só tinham se visto uma única vez, numa noite daquelas que saímos dispostas a realizar loucuras. E de fato fazemos loucuras!!!
      Depois que ela se “recordou” da pessoa com quem falava, a conversa tomou rumos mais íntimos, relembrando os momentos loucos e deliciosos que viveram... Desejaram felicidades para o ano que acabava de começar, contaram onde haviam passado o Natal, enfim, o papo apesar de diversificado foi rápido, pois ela estava no meio da rua tentando pegar um táxi.
      Quando  entrou no carro já havia desligado o telefone e se desligado do mundo, tomada por uma sensação boa que há muito não sentia. Desejava e muito que ele ligasse, mas dada as circunstâncias em que haviam se conhecido, acreditava que não passaria de uma noite apenas. Única e  inesquecível, ao menos para ela.
      Era época de final de ano, tempo em que todo o estresse do mundo se concentra somente dentro de nós, os problemas pipocam, o cansaço é desesperador. Para ela todo final de ano era assim. Tinha a sensação  de que Deus a esquecia  durante o ano todo e, para não se sentir injusto em relação as outras pessoas que havia passado um ano de cão, despejava de vez, todos os pepinos, abacaxis e jacas que deveriam ter sido paulatinamente distribuídos ao longo dos meses...
      Tinha acabado um namoro antigo, daqueles do tipo certificado de curso de datilografia do SENAC, perde-se a utilidade, mas não conseguimos jogar no lixo. Faz parte da nossa história. Logo, não estava mal, apenas desacostumada com sua nova situação.
      Para dar uma relaxada, mesmo  em plena semana, foi a  vernissage de uma amiga.Na verdade não poderia faltar,havia acompanhado todo o processo de criação de perto e foi uma das grandes incentivadoras. Tomou uma, duas, três, quatro, taças de vinho e já  era a mais animada do grupo para esticar a noite em uma quadra de escola de samba.
      Entrou na quadra e no clima!  Liberou a mulata ancestral da sua árvore genealógica. O mais impressionante é que ela estava incrivelmente sensual no seu modo desengonçado e desequilibrado de sambar. Foi o que  disseram os amigos, os mesmos que a acompanharam no vernissage, nas taças de vinho e nas atuais latinhas de cerveja.
      O melhor de tudo é que fazia tempo que ela não se divertia tanto! Não sabia sambar mas adorava samba, o sangue entrava em ebulição ao som da bateria... Estava em êxtase carnavalesco! Exatamente o que chamou a atenção do homem alto, bronzeado e de sotaque carregado que se aproximou dela.
      Trocaram algumas gracinhas inteligentes e atracaram - se num beijo de provocar inveja em qualquer um dos sambistas presentes. Ambos ignoraram os amigos. Dançavam, sorriam, conversavam, brincavam e se beijavam como velhos conhecidos!
      Atraídos por uma necessidade de sentirem-se íntimos de um estranho, continuaram a madrugada no apartamento dele.
      Não pensaram nos riscos que corriam. Ele, poderia ser um louco, tarado que freqüenta quadras de escolas de samba com o intuito de  atrair  suas vítimas para o local do crime, que em seus planos macabros de assassino em série  chama carinhosamente de “zona de dispersão”, utilizando um jargão carnavalesco. Ela, poderia ser uma ladra experiente, que se diverte quando a vítima é interessante e depois lhe aplica um “boa noite John Boy” utilizando uma técnica desenvolvida no melhor estilo Mata Hari de ser.
       Na realidade o único risco que importava para eles naquele momento era o de não se agradarem. Mas isso definitivamente não aconteceu. A madrugada continuou sendo maravilhosa.   Falaram de suas vidas, brevemente, é verdade, sem muitos detalhes, um currículo superficial, somente para aplacar a curiosidade e consciência. Não tinham a intenção de se apegarem a  bobagens. Tinham mais o que fazer. Cada um com seus motivos, precisava  daquele momento de prazer verdadeiro.
      Quando o dia amanheceu ele a deixou no trabalho.  Se despediram com carinho e respeito, tão verdadeiros quanto o prazer trocado. Ao descer do carro teve a certeza de que jamais  voltaria a encontrá-lo. Até receber o tal telefonema. Seria Deus tentando remediar-se?
      Assim que chegou em casa contou para uma amiga que sabia de toda a história e que também tinha plena convicção de que ele não ligaria nunca mais. A justificativa? Havia cedido no primeiro encontro... O secular machismo... Mulheres não podem ceder aos seus impulsos e desejos?   
Nem todos os homens são hipócritas. Felizmente!
      Nos dias seguintes continuaram se falando, pelo telefone. Ela sabia que ele vivia uma relação complicada, era digamos... comprometido. Mas estava em processo de separação. Morava  há pouco no Rio de Janeiro, e gostava da companhia dela, do jeito dela, das coisas que ela fazia e dizia. Eram diferentes, mas se curtiam, de maneira igualmente diferente.
      Por várias vezes ela pensou em não atender aos seus telefonemas, em esquecer, deixar na lembrança. Mas não conseguia, estava encantada!
       Havia certo limite da parte dele, ela sabia de sua vida até a página cinco. Ele em compensação tinha até as suas referências bibliográficas.
      Um dia com toda a verdade que possuía, ele ligou dizendo que estava em renegociação com a quase futura ex - esposa. Não poderiam mais se encontrar. Ela, com a mesma segurança da mulher moderna que sempre demonstrou ser, lhe deu completa razão e incentivo. Sempre acreditou que de um jeito qualquer, fora da normalidade, ele gostava da mulher.
      Seguiu sua vida, com a mesma sensação de quando desceu do carro dele naquela primeira vez. Desejava reencontra-lo, mas sabia que as possibilidades eram mínimas.
      Uma tarde, quieta em casa, o telefone tocou. Dessa vez, reconheceu o número. Colocaram o papo em dia. Naquela tarde e em outras tardes e madrugadas. Sempre se falavam de madrugada, ela sofria de insônia!
      Ela relutou em aceitar o convite para se encontrarem, afinal a  renegociação tinha se realizado com sucesso.
       Finalmente aceitou. Era muito bom estar com ele. Entendiam - se bem, se ouviam, riam.
      Amaram - se novamente, mas desta vez, antes que  virasse “abóbora”, ele teve de ir embora. Ela  recolheu seus sapatinhos e entrou no táxi de volta para casa.  Sozinha. Seria sempre assim? Não tinha coragem para perguntar.
      Seu telefone tocava nas horas mais diversas, e ela sempre alerta. O telefone dele só poderia tocar em horário comercial.
      Não tinha dia certo e muito menos hora certa para chegar em sua casa. Avisava que estava chegando. Simplesmente. Algumas vezes ela não tinha tempo para se arrumar, outras se arrumava e esperava, esperava e cansava de esperar. Mas tinha que  controlar sua ansiedade e raiva até o próximo horário comercial para descobrir o que de fato havia acontecido. E os fatos passaram a ser constantes.
      O prazer deixou de ser intenso. Acabavam de fazer amor e não tinham o que dizer. Ele esperava educadamente alguns minutos. Vestia-se e partia.
      Sempre que ele partia, ela tentava organizar seus pensamentos e seus sentimentos e quanto mais tentava , mais confusa se sentia. Então levantava, trocava os lençóis e ia tomar um bom banho.
       Sofria de insônia e medo de solidão.

12 maio 2015

BALADEIRA

Chegou do trabalho apressada, pegou a correspondência em seu escaninho. Mal cumprimentou o porteiro. Respiração acelerada, suava mais do que o normal, seus pensamentos eram tantos que nunca se completavam, não podia esquecer nada! Será que conseguiria? Claro que sim! Mas teria que ser muito rápida.

Seu Aroldo estranhou. Ela nunca chegava daquele jeito, afobada, distraída e muito agoniada. Pensou em oferecer ajuda, colocar-se á disposição; desistiu em seguida. E se ela tivesse o mesmo problema do  morador do 603? Ele sofria de incontinência urinária, um nome bonito para quem fica apertado toda hora para ir ao banheiro. Poderia deixa-la envergonhada tendo que lhe explicar do que se tratava. Resolveu gentilmente ligar o outro elevador. Um cavalheiro seu Aroldo, pensou ela.

  Agora as chaves! Não conseguia encontrar o  chaveiro em meio a bagunça da sua bolsa; eram papéis e mais papéis! Prometera a si mesma um milhão de vezes que não aceitaria nunca mais um único panfleto. Um inferno esse derrame de propagandas  pelas ruas. Mas pensava no sol escaldante e olhava as expressões desesperadas daquelas pessoas, horas de pé, para no fim das contas ganhar uma ninharia. Resultado: Jamais os recusava. Tinha propaganda de sex shop, curso de informática e até de mãe de santo! Encontrava de tudo, menos a bendita chave...Remédio para as cotidianas dores de cabeça, calendário de Santo Expedito, maquiagem, perfume, escova de dentes...Tudo. Menos as chaves.

Perdeu um tempo precioso até encontrar os sininhos dourados. Finalmente abriu a porta.Jogou a bolsa no sofá e correu para o banheiro. Deixou a banheira enchendo, a ocasião merecia um banho com sais, embora o tempo fosse curto.
Caso se atrasasse para o primeiro compromisso, provavelmente iria atrasar todos os outros, seria terrível!! Detestava esperar e detestava fazer os outros esperá-la, mesmo porque, raramente há tolerância.

Colocou uma música, precisava relaxar. Um jazz maravilhoso!!! Correu para o quarto. Hora da difícil tarefa: escolher o traje! Precisava de algo que combinasse com todos os seus compromissos da noite, algo não muito ousado porém nada recatado demais, não poderia ser muito formal mas também não muito simples...

Tirava e colocava cabides com uma velocidade impressionante! Experimentou vários vestidos, calças, blusas, colocava-os  na frente do corpo,observava-se por alguns segundos e voltava com eles para o armário. Até que a pressa falou mais alto do que a vaidade e optou por um conjunto de saia e blusa bordado artesanalmente. Lindo! Ela tinha muito bom gosto para se vestir, aliás, tinha bom gosto para tudo!

Seu apartamento, apesar de pequeno, era extremamente aconchegante. Móveis escolhidos em brechós, uma mistura do antigo com o contemporâneo. Sempre muito limpo, pronto para receber quem quer que fosse! Tinha uma pequena adega, prazer herdado do pai, um amante de vinhos!! Poderia agradar qualquer visita, tantas opções entre fermentados e destilados, pastinhas, comidas congeladas prontas para  servir.... sem falar em seu acervo musical! A música era uma outra grande paixão! Adorava, cantar, dançar... Sua casa era o lugar perfeito para aquelas reuniões improvisadas de fim de noite, onde o papo se alongaria até o amanhecer e ninguém, sentiria o tempo passar!Não haveria quem pudesse deixar de  sentir-se à vontade em sua casa!

Mergulhou na banheira morna,fechou os olhos, soltou um suspiro de prazer! Tomava cuidado para não molhar o cabelo, havia perdido toda a sua hora de almoço no cabeleireiro especialmente para aquela ocasião!Apesar de o banho estar delicioso não se demorou, ainda tinha a maquiagem...

Lambuzou o corpo com um creme maravilhoso, vestiu – se e foi para frente do espelho iniciar a etapa final.

Um pouco de máscara para disfarçar as olheiras, não dormia uma noite inteirinha há muito tempo, sempre virando a madrugada em seus inúmeros eventos e encontros, tendo que trabalhar cedo no dia seguinte!! Pó de arroz, lápis, rímel, blush, um batom de cor suave, nada extravagante. Não aquela noite. Era uma mulher de uma elegância exuberante e uma beleza discreta.

Parou alguns instantes diante do espelho admirando-se. Estava muito bonita. Completamente diferente da dinâmica e prática gerente de banco de algumas horas antes.
Uma verdadeira transformação! Ninguém do seu trabalho a reconheceria...A expressão dos olhos era diferente...Mais delicada, mais suave, mais feminina...Mais mulher.
O perfume! Quase esquecera! Sem perfume não era ninguém, costumava dizer que o cheiro antecipa as intenções das pessoas. Através do perfume escolhido seja em ocasiões especiais, ou períodos da vida, as pessoas poderiam perceber os desejos das outras, bastava ser um pouco mais sensível e perspicaz! Comprovava sua teoria com seus clientes no banco.

Tudo pronto! Antes de partir, foi até a cozinha, escolheu um bom vinho, serviu – se, bebeu degustando com prazer...

Apagou as luzes, acendeu a luminária que ficava no canto do pequeno escritório, fechou as janelas, o barulho das buzinas estava especialmente infernal naquela noite.
Faltavam alguns minutos. Fazia questão de ser pontual.
Respirou fundo, sentou-se diante dele e partiu.

Sentia  medo! E se eles não estiverem lá? Mas precisava ser forte. Havia se preparado tanto...

Assim que o ponteiro marcou vinte uma e trinta, ela ligou seu computador e foi, como todas as noites, para os seus eventos virtuais, para uma noitada divertidamente virtual, estreitando relações virtuais, em conversas virtuais cheias de bjs, rs, tdb, nk, vc com amigos virtuais.

Horas e horas diante de uma tela azul, enquanto a noite, lá fora, iluminada por uma lua grande e  amarela, abençoava aqueles que ainda não haviam se rendido a segurança fria de uma boemia virtual.  











08 maio 2015

BOA AÇÃO

Tem gente que chega
 e não sabe o estrago que faz!
Desordena com a vida!Alheia.
Arrebata!
Inflama os sonhos...
Traz consigo tanta coragem
Traz tanta arte
Esbanja vida
E de bom grado
Abre tanta chaga...
Da boa!
E quando se vai
Vai largando  a essência !
Quem ficou
Quer ir seguindo o rastro
Por esse mundo
Pasto
Lasco
Mágico
Vasto...
( 2015)








07 maio 2015

ESTRANHAMENTO

É...  a calmaria é um troço esquisito...
A angústia é tanta, 

as incertezas atormentam e sufocam com tanta intensidade, 
 as batalhas cotidianas se tornam quase sempre tão árduas 

tão sangrentas que, 
quando o vento chega como brisa... a gente estranha.
Parece que falta algo.
Então percebemos.
 Falta a dor.
Como se para estar vivo sempre fosse necessária a dor.
E agora?
Despertamos em riste... Dentes trincados... .
Engolimos o pão seco.
De um gole só o café ferve goela abaixo.
Marchamos até o ponto de ônibus 

 já prevendo as tempestades cotidianas.
Pagamentos, atrasos, gritos, calor, filas, mentiras, enganos,
 prejuízos, injustiças,
danos, perdas, dolos, fúria, medos, asco, febre, 

nóias, abraços frios,
olhares sombrios, risos de meia boca,

 cochichos, desperdícios,
sapos, silêncios, sinais de mais, ações de menos,

 desconforto,
falta de ar, falta de amar, falta de mar, de sol, 

de vento, de lua,
 de estrelas,
de céu, de gente!!
Sobressalto, correria, multidão, melancolia, solidão.
É tanto, tanto, tanto, tanto... que...
Quando o tudo se aquieta...
Apruma
Ordena
Regenera
Alinha
Prospera
Engrena...

Eia... gente estranha.
Mas
Toda guerra tem trégua.
Festejemos então... as pausas para a paz.
Cuide das feridas.
 Limpe as armas. 
Nunca se sabe...
( 2015)