14 janeiro 2015

TRIZ

Não mais sentia o calor do sol.
Não mais percebia a beleza de uma noite de luar.
Não mais me encantava o brilho das Três Marias.
Não mais me inebriava o cheiro forte de maresia.


Os dias eram sempre iguais...


Não mais me emocionava aquela canção antiga.
Nada mais significava aquelas meninas bruxas
 no  porta - retrato.
Não mais enxergava o canteiro secreto.
Não mais precisava da medalhinha dada pela vó.


As lembranças eram sempre muito iguais.


Não mais me confortava um abraço apertado.
Não mais me alegrava um telefonema inesperado.
Não mais me revoltava as injustiças
Não mais me indignava a indigência humana.


As pessoas agiam sempre iguais.


Não mais planejava os finais de semana.
Não mais desejava a barriga da gestante.
Não mais sonhava com a farra de carnaval.
Não mais esperava folhear o álbum da família.


Os planos tornam – se iguais, quando ficam para depois.


Não mais ouvia meu coração.
Seguia o fluxo tentando alcançar as metas.
Quanto mais conseguia, mais me esvaía.
De tão vazia, menos eu, me sentia.


Igualmente se caminha a desumanidade.
Sem beleza própria.
Sem vontade própria.
Sem opinião própria.
Sem amor próprio e ao próximo.
Sem entusiasmo.
Sem cor.



Quase esqueci...
A essência tornou – se supérfluo.
Quase.
 Esqueci.


                                                                                                    2005







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