Tudo estava no lugar.
A mesa de centro, sobre ela, os livros de arte,
sempre folheados por alguma eventual visita.
O tapete felpudo sob a mesa de jantar de oito lugares,
Quase nunca utilizada.
Os quadro pendurados ,simetricamente,
Iluminados por pequenos
abajures de pés.
O sofá de couro e suas almofadas
Em tons pastel... As discretas cortinas de voal.
Tudo estava em seu devido lugar...
E qual lugar ocupava a alegria?
Tudo tão organizado!
O freezer combinando com a geladeira e o fogão.
Cinzas.
Alvos panos de partos pendurados. Impecáveis!
Dispensa farta.
Porta copos, Porta pratos. Porta xícaras. Porta talheres
Estrategicamente posicionados.
Tudo prático.
Tudo perfeitamente em seu devido lugar.
Mas não havia lugar para o desejo.
Tudo muito. Muito organizado.
Frascos de perfumes, cremes e maquiagens
De um lado da bancada.
Espumas de barba, lâminas de outro.
Podia-se ver refletido no espelho,
Que tomava toda parede,
A banheira de hidromassagem, quase intacta.
Toalhas separadas por cores.
As dele. As dela.
Contrastavam com o porcelanato branco.
Difusores perfumavam o ambiente.
Tudo limpo.
Impecável.
Espantosamente sem paixão.
Tudo milimetricamente arrumado.
A cama king size entre dois criados mudos.
Uma bela gravura sobre a cabeceira.
O canto reservado para leitura,
aproveitando a claridade natural.
Lençóis de puro linho.
Colchas macias.
Travesseiros de penas de ganso.
No porta retrato, escondido atrás do computador,
Ainda se olhavam e
até sorriam.
Tudo estava em seu devido lugar.
E o amor? E a vida?
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