Hoje sou apenas casca.
Espectro do que chamaria de EU.
Abduzida alegria
Roubada a poesia
“Com o seu consentimento.”
Vociferam os
juízes sociais!!
Com o meu
consentimento ?
Hoje sou pó.
Sem forma. Desmoronada.
Escombros de
sonhos.
“Com a sua permissão.”
Esganiçam os inquisidores
morais.
Com a minha permissão ?
Hoje sou o bolo no estômago.
O engasgo.
O suspiro atravessado.
O grito emudecido.
Sou ferida exposta vertendo sangue.
Sem forças para recuar ou lutar
Mantenho-me alvo.
Inerte.
Amedrontado.
Silencioso.
Hoje, sou a fêmea da manchete de jornal:
Asfixiada.
Esfaqueada.
Queimada.
Espancada.
Alvejada à queima
roupa.
Difamada.
Estuprada.
Amordaçada.
Violentada.
Torturada.
Defenestrada.
Julgada , humilhada e condenada.
Enfim, cadáver.
Eternamente número.
Estatística da
omissão nossa de cada dia