13 maio 2018

CRÔNICA SOBRE MÃES


O que sabemos  a mais  do que elas?
No auge da minha prepotência, achava que o estudo formal me capacitaria para vida.
Me transformaria   em um ser especial.
Alfabetizada
Letrada
Formada.
ENSINO  SUPERIOR!!!
Enquanto ela... Ela foi até o adicional.
Male- mal... trabalhando sempre.
Com seus plurais desencontrados
Verbos perdidos no tempo
E muitos pronomes de tratamento!
Além da conta! Porque sabia o seu lugar.
Enquanto eu, não me conformava com o lugar a mim legado.
“Os livros viraram sua cabeça”...  dizia ela.
Mas quantos sacrifícios fez, para que esses livros
pudessem  revirar a minha cabeça!
Sempre foi  sabida a danada!
Cozinhava. Costurava. Bordava. Pintava. 
E, ainda por cima, entendia do mundo e de gente.
Enxergava tudo com olhos atentos.
Enxergava além dos livros.
Nunca leu Clarice, mas sabia que o essencial estava  nas entrelinhas... da alma!
Gostava mesmo era  de ler vida de santo!
Um dia descobri que de escrever,  também gostava!
Carta de amor. Poema. Oração, então....
Tirava as palavras bem lá do fundo do coração.
 ALUMIAR...
Sempre tinha um verso que alumiava em seus poemas, suas orações!.
Mas o tempo pra prosa e verso, era pouco.
Todo dia tinha que lavar.
Passar
Limpar
Vender
Abrir e fechar portão.
Ralhar com menino atrevido.
Carregar peso.
E era muito peso!
Não sobrava espaço para os sonhos que ela sonhava.
Durante muito tempo achei que ela  nem sabia sonhar.
Hoje compreendi a artimanha...
Ela escondeu seus próprios sonhos
para que sobrasse  mais espaço para os nossos.
Ela economizava até felicidade, que era tão pouca, para que nunca nos faltasse.
Por isso a gargalhada era rara.
Mas era orgulhosa, teimosa.  Precisava ser. Senão não aguentava!
Coragem, nunca faltou!
Seguimos... eu e ela:
Essencialmente pares apesar de todas  as diferenças!
Benção, mãe!