08 dezembro 2018

A ARTE


Não acredito na arte estática. Plastificada.
Botocada de tendências.  Arte puramente comércio.
Não acredito na arte unânime.
Arte massa ou Arte de Massa?
Quero a arte que pulsa.
A arte que desapruma
Desestabiliza, te faz murchar e inflar em segundos.
Arte que te conforta  expondo  a carne ,  viva. 
Latejante.
Quero a arte que rasga, retalha e fornece tecido novo.
Costura firme. Agulha afiada para couro curtido.
Quero a arte que alegra , fascina e  inspira à mudança.
Arte  cheia de Bretch... 
Arejada.Livre . Engajada.
Quero a arte que confronta através do amor.
Quero a arte que se espalha...
Morro
Asfalto
Planalto
Caatinga
Pantanal
Planície
Sertão
Pampas
Arte pululante!!!
Arte e fato.
Arte : Flecha de reflexão.
Imagem: Audrey Kasawaki

21 outubro 2018

DESPUDORADOS


No meio do sexo ele  me beija a testa.
Ele pega o meu  rosto suado entre as suas mão e me beija a testa.
O mundo para  quando ele me beija a testa.

Em meio a  toda sacanagem que nos dispomos a fazer quando nos amamos, ele me beija a testa.
Despudoradamente, me olha nos olhos e me beija a testa.

Me penetra
a alma.

É o auge do prazer.
Imagem: Audrey Kasawaki


09 agosto 2018

NEM UMA A MENOS

Hoje sou apenas casca.
Espectro do que chamaria de EU.
Abduzida alegria
Roubada a poesia

“Com o seu consentimento.”
Vociferam   os juízes sociais!!

 Com o meu consentimento ?

Hoje sou pó.
Sem forma. Desmoronada.
Escombros  de sonhos.

“Com a sua permissão.”
Esganiçam  os inquisidores morais.

Com a minha permissão ?

Hoje sou o bolo no estômago.
O engasgo.
O suspiro atravessado.
O grito emudecido.
Sou ferida exposta vertendo sangue.
Sem  forças  para recuar ou lutar
Mantenho-me  alvo.
Inerte.
Amedrontado.
Silencioso.

 Hoje, sou a fêmea da manchete de jornal:
 Asfixiada.
 Esfaqueada.
 Queimada.
 Espancada.
 Alvejada à queima roupa.
 Difamada.
 Estuprada.
 Amordaçada.
 Violentada.
Torturada.
Defenestrada.
Julgada , humilhada  e  condenada.
Enfim, cadáver.

Eternamente número.
Estatística da omissão nossa de cada dia



10 julho 2018

MANIFESTO DE AMOR


Salve o amor!! 

Mas para isso, precisamos  salvá-lo!!
Salvemos  o amor, enquanto  há tempo, libertando –  o das grades da hipocrisia!!
A todo custo, querem enquadrar o amor,  restringir a sua potência infinita  a simples ordem binária.
No entanto,  o amor  transcende a ordem, ao gênero, a cor, a religião.
Amor  é desalinho. 
Se instala em explosão.
O amor tem muitas formas, muitas nuances, muitos contornos, curvas, gostos...
Durante séculos,  a Santa Madre  ,nos fez  crer  que  o amor correto e decente era o amor descrito  em Gênesis...  
Estabeleceu-se um  modelo divino de amar. Único  e legítimo.
Demonizaram  o amor !
Mas o amor não tem modos, e nem medo de pecar.  Quem ama passa férias no inferno.
Não podemos aceitar padrões para o amor.
O amor   é ousadia, é desafio,  é  força  motriz .
O amor é  encontro de almas, encontro de pele  e acontece entre gentes.
E gente, quando ama, é feito bicho!
Salve o amor... puto amor, escancarado, viciante, bandido, comedido, eterno, fugaz, visceral, monogâmico, poligâmico,  voraz ou  paciente,!!!
Salve o amor tranquilo com sabor de fruta mordida!
Salve o amor , que é ferida que dói e não se sente!
Salve o amor , que cabe no espaço de beijar!
Salve o amor sem mistério e sem virtude!
Salve o amor, feito aguardente que não sacia!
Salve o amor que transgride  e se impõe !
Salve o amor que nos desperta fúria e gozo!
Salve o amor que não limita.
Nos salve, AMOR!



13 maio 2018

CRÔNICA SOBRE MÃES


O que sabemos  a mais  do que elas?
No auge da minha prepotência, achava que o estudo formal me capacitaria para vida.
Me transformaria   em um ser especial.
Alfabetizada
Letrada
Formada.
ENSINO  SUPERIOR!!!
Enquanto ela... Ela foi até o adicional.
Male- mal... trabalhando sempre.
Com seus plurais desencontrados
Verbos perdidos no tempo
E muitos pronomes de tratamento!
Além da conta! Porque sabia o seu lugar.
Enquanto eu, não me conformava com o lugar a mim legado.
“Os livros viraram sua cabeça”...  dizia ela.
Mas quantos sacrifícios fez, para que esses livros
pudessem  revirar a minha cabeça!
Sempre foi  sabida a danada!
Cozinhava. Costurava. Bordava. Pintava. 
E, ainda por cima, entendia do mundo e de gente.
Enxergava tudo com olhos atentos.
Enxergava além dos livros.
Nunca leu Clarice, mas sabia que o essencial estava  nas entrelinhas... da alma!
Gostava mesmo era  de ler vida de santo!
Um dia descobri que de escrever,  também gostava!
Carta de amor. Poema. Oração, então....
Tirava as palavras bem lá do fundo do coração.
 ALUMIAR...
Sempre tinha um verso que alumiava em seus poemas, suas orações!.
Mas o tempo pra prosa e verso, era pouco.
Todo dia tinha que lavar.
Passar
Limpar
Vender
Abrir e fechar portão.
Ralhar com menino atrevido.
Carregar peso.
E era muito peso!
Não sobrava espaço para os sonhos que ela sonhava.
Durante muito tempo achei que ela  nem sabia sonhar.
Hoje compreendi a artimanha...
Ela escondeu seus próprios sonhos
para que sobrasse  mais espaço para os nossos.
Ela economizava até felicidade, que era tão pouca, para que nunca nos faltasse.
Por isso a gargalhada era rara.
Mas era orgulhosa, teimosa.  Precisava ser. Senão não aguentava!
Coragem, nunca faltou!
Seguimos... eu e ela:
Essencialmente pares apesar de todas  as diferenças!
Benção, mãe!



26 janeiro 2018

RESILIÊNCIA


Ato de fechar, sem bater, 
portas, janelas e alma
voltados para
concreto armado.


"Jovem Virgem" Dalí

19 janeiro 2018

TRISTE FOLIÃO

Esse meu coração folião...
Só bate descompassado!
De batuque atravessado,
 só ama desafinado
criando enredo apaixonado e
bendizendo  desilusão!
Dispensa alegoria
invade a avenida
rasgando fantasia
ignorando a marcação.
Coração, triste folião,
Exibe o sorriso mascarado
mas no fundo
 ao lamento da cuíca,
segue sangrando
sambando com a solidão.
E, finalmente, nas cinzas da quarta,
Sucumbe.
Para.

Desfalece de paixão.


18 janeiro 2018

MINHA SURUBA É PESADA

Para o seu governo..
Surubinha de leve...
Pra mim é coisa de moleque!!
Minha pegada é profunda!!
E,  só, encaro bem consciente.,
Porque, mesmo com tesão,
Escolho o que quero!
Meu corpo decide e guarda
Pra lembrar mais pra frente e contar pras amigas,
Os vexames dos alfas!!
Sobre as “pikinha”  de leve..
Que a natureza proteja!!
Já que ... não me faz nem cosquinha!!
Gosto de gozar à baldes
E, pra conseguir isso, companheiro,
Tem que ser homem pra caralho....
Porque , minha escolha, repito, é consciente...
 Hoje pago minha  pílula e o nosso  motel.
Posso até beber um pouco, mas saiba, boneco,
Tó sabendo o que quero...
Aviso de boa:
Desacordada, não gozo.
Embriagada, não tenho prazer.
Se sua pica, só funciona assim..
Sinto dizer...

Vai se  fuder!!!

12 janeiro 2018

CALE-SE

Enquanto eu  te permitir dentro de mim..
silencie se não for sincero.
Algumas vezes, necessito apenas de prazer;
 displicente!!
No entanto...
Sou mulher.
O prazer pode ser fugaz...
Mas o desejo...
O meu desejo é verdadeiro.
O meu gozo é genuíno!
 Ainda que  não apaixonado!
Se em êxtase balbucio: “Te quero todo”
É  porque, de fato, te quero intensamente.
Naqueles segundos.
Te  engulo à medida do meu aconchego.
O meu tempo se extingue ao ápice.
Transbordo por  vosmicê...
Encharco lençóis ...
Mas dentro de mim:
Te permito.
Cale ...
se
Não for visceral.




03 janeiro 2018

RASCUNHOS

Vou escrevendo rabiscos
Até juntar uma vida.
Vou escrever uma história feliz.
Mas  não apenas com o final feliz.
Esta história será toda feliz.
Início, meio e fim.
Não quero saber das estruturas dramáticas.
Não me preocuparei com conflitos e nem suspenses.
A minha história feliz.
Os desencontros farão sentido.
Os acasos  se encaixarão.
Os olhares se cruzarão ao primeiro encontro.
O beijo, não ficará para o final.
 Acontecerá no tempo do desejo.
 Nada líquido. Tudo abstratamente concreto.
Em  minha história feliz, haverá dor. Dor seca. Sofrida e superada.
Mas haverá também  amor.
Sem licença poética ou realismo fantástico.
Amarão o pior de cada ser.
O mais real que tiverem a oferecer.
Vou  escrevendo rabiscos
Até juntar uma vida.